A cada dez indígenas que cultivam suas roças, nas aldeias da Terra Indígena Tenondé-Porã na zona sul paulistana, 4 são mulheres. Diversas variedades de milho, batata doce e mandioca são cultivadas de forma agroecológica entre os Guaranis, em um processo de resgate de sua tradição e da agrobiodiversidade. Entre as principais fontes de renda se destacam a colheita de ervas medicinais e produção de artesanatos
A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU), por meio do Projeto Ligue os Pontos, disponibiliza estudo sobre os agricultores guaranis e a atual produção agrícola na Terra Indígena Tenondé Porã, situada no extremo sul da cidade. O objetivo é dar visibilidade às práticas de cultivo adotadas por esses povos e subsidiar políticas públicas para o território.
A cidade de São Paulo tem preservados cerca de 30% de seu território com características rurais, onde são encontrados significativos remanescentes do Bioma Mata Atlântica, detentores de uma rica biodiversidade, além de uma produção agrícola baseada na agricultura familiar e nove aldeias da etnia Guarani localizadas em duas Terras Indígenas (Jaraguá, a noroeste e Tenondé Porã, no extremo sul da cidade).
Nesse contexto, para conhecer melhor quem são esses agricultores, suas práticas, carências e desafios, o Projeto Ligue os Pontos, vencedor do concurso Mayors Challenge 2016 (promovido pela Bloomberg Philanthropies), que atua há mais de dois anos na zona rural sul da cidade, apoiando os agricultores para que adotem práticas mais sustentáveis, realizou dois levantamentos.
O primeiro, divulgado em agosto de 2019, mapeou 428 unidades de produção agrícola da zona rural Sul, – sendo 171 no distrito de Parelheiros, 169 em Grajaú e 88 em Marsilac. Em julho deste ano o levantamento foi transformado em um amplo estudo, com o objetivo de orientar o planejamento de uma série de políticas públicas à região. Veja aqui: https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/noticias/prefeitura-realiza-estudo-inedito-sobre-os-produtores-rurais-de-sao-paulo/
Já o presente cadastro é voltado exclusivamente para identificar e conhecer melhor quem são os agricultores e como se dá a produção agrícola nas seis aldeias guarani da Terra Indígena Tenondé Porã, cuja área ocupa cerca de um terço de toda a zona rural sul da cidade.
Contratado pelo Projeto Ligue os Pontos, o levantamento foi executado pelo Centro de Trabalho Indigenista – CTI, com ativa participação dos guaranis. O objetivo desse trabalho não é apenas subsidiar políticas públicas específicas para este território, mas também dar visibilidade às práticas tradicionais de cultivo que vêm sendo resgatadas nas aldeias da TI Tenondé e como elas resultam em uma impressionante agrobiodiversidade.
Confira abaixo os principais resultados do cadastro!
Cadastro da produção agrícola guarani
A partir de uma série de encontros com os guaranis e da aplicação de questionários digitais, foram identificadas 29 unidades produtivas e 81 roças no território Guarani, somando aproximadamente 5 hectares de áreas de plantio. Importante ressaltar que o conceito de unidade produtiva teve que ser adaptado à realidade guarani, sendo definido como “viver e plantar juntos”, ou ainda, “produzir juntos por meio de um território comum”. Já a roça, que integra necessariamente uma unidade produtiva, foi caracterizada por apresentar atributos próprios de manejo, cultivo e qualidade do solo.
Entre os diversos resultados obtidos, pode-se destacar, por exemplo, que das 123 pessoas envolvidas com plantio nas unidades produtivas, 40% são mulheres. Quanto à faixa etária, as pessoas de 21 a 59 anos representam a maior parte (64%) dos atuantes no campo.
O cultivo, aliás, é apontado pelos guaranis como a principal garantia do sustento. Por outro lado, a comercialização dessa produção se faz pouco presente no território, o que talvez possa ser explicado por aspectos da cultura guarani, como a proibição da venda de alguns produtos considerados sagrados, como o milho, a priorização do compartilhamento de alimentos e a organização da produção por meio de processos coletivos.
O cultivo que mais compõe a alimentação das aldeias é a banana. Contudo, mesmo que ainda incipiente, a produção de culturas anuais no território é considerável, tendo sido estimada uma produção total de cerca de 16 toneladas para as culturas de milho e mandioca.
O levantamento mostra também que a colheita é uma atividade muito presente entre os Guarani, sobretudo, de ervas medicinais e matéria-prima para confecção de artesanato. Para esse último caso, vale informar que em cerca de 70% das Unidades Produtivas há pessoas, especialmente as mulheres, que têm a venda de artesanato como uma das principais fontes de renda.
Apesar de muito presente (75% das unidades produtivas), a criação de animais pouco contribui no sustento dos povos guaranis. Muito pelo contrário, a presença destes animais criados soltos nas aldeias, associada a formigas cortadeiras, representa séria ameaça às plantações. Outros fatores também são apontados no estudo como os principais gargalos para a sustentabilidade da produção agrícola guarani, entre os quais, a falta de insumos, sobretudo adubos orgânicos e ferramentas, e a falta de espaço, em algumas aldeias para a ampliação das roças.
Leia o estudo na íntegra clicando aqui.