Edital da Prefeitura de São Paulo beneficia dez produtores da zona sul da capital e fortalece rede de produtores empreendedores
Maria Bernardete Alcebíades é produtora agrícola há mais de vinte anos. Em Parelheiros, zona sul de São Paulo, ela produz frutas e verduras orgânicas em sua propriedade, o Recanto do Jakinha Orgânicos. Agora, além dos produtos in natura, ela também vende frutas desidratadas, geleias e compotas.
A Bernardete faz parte de um grupo de dez produtores agrícolas da região que integram a Rede Agroecológica Ballaio Orgânico, fortalecida a partir de um edital da Prefeitura de São Paulo, por meio do Projeto Ligue os Pontos, para estruturar a cadeia de valor da agricultura orgânica e familiar em Parelheiros.
“Essa rede oferece ao produtor um olhar global, que vai desde a implantação de técnicas de melhorias da produção e ferramentas para agregar valor ao produto, até a divulgação, venda e entrega”, diz Aline Cardoso, secretária de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo. “É uma iniciativa que demonstra de maneira clara o objetivo do Projeto Ligue os Pontos, que é conectar todas as etapas da cadeia produtiva, do cultivo à venda, gerando mais renda aos produtores agrícolas da cidade”, conclui.
“O projeto sempre teve esse olhar para desenvolver e fortalecer a Cadeia de Valor da Agricultura e do Alimento, e através dessa iniciativa foi possível consolidar a ideia no campo” diz Nicole Gobeth, gestora do Ligue os Pontos.
A cozinha industrial instalada na propriedade da Bernardete, onde ela faz a desidratação das frutas, é de uso coletivo da rede. Ali, estão disponíveis aparelhos de selamento à vácuo, processador de alimentos, geladeira, fogão, entre outros, além da desidratadora. “O equipamento é muito bom e fácil de usar, eu estou achando maravilhoso”, diz Bernardete. “A fruta desidratada tem mais versatilidade e é mais valorizada no mercado”, analisa a produtora, que também está fazendo reformas em sua propriedade para poder receber turistas.
O permacultor Vinícius Ramos, idealizador da rede Ballaio Orgânico, explica que os recursos do edital foram investidos em três frentes: assistência técnica individualizada, equipamentos de uso coletivo e o suporte gerencial, que inclui divulgação e logística. “Nossa expectativa é que esses espaços de uso coletivo sejam locais para encontros e trocas de experiência que vão fortalecer os elos dessa rede, o que infelizmente a pandemia ainda não permitiu”, conta.
Os produtos fornecidos por esses dez agricultores formam cestas comercializadas pela Ballaio Orgânico e entregues diretamente ao consumidor. O sucesso do formato foi tamanho, que a empresa disputou e venceu a licitação da Secretaria Municipal de Assistência Social para fornecimento de cestas de alimentos à população vulnerável. Apesar disso, Vinícius ressalta que a rede não é apenas um serviço de entrega de cestas. “O que nós temos é realmente uma parceria com os produtores, oferecendo assistência técnica, extensão rural, banco de sementes, entre outros, e criando uma relação de economia solidária”, afirma.
Ainda sem produção para integrar as cestas, a produtora Giovana Gonçalves Silva tenta adquirir mais experiência e conhecimento. Em sua propriedade, a Eco Jusa, o projeto instalou uma estufa onde ela plantou mais de quinze variedades diferentes. “Quero aprender o manuseio de cada produto na prática”, ela diz, contando que há dois anos largou o emprego para se dedicar à produção agrícola por seu amor ao trabalho na terra. “Eu já tinha feito uma estufa aqui, e percebi a melhoria na qualidade dos produtos. Agora, com essa estufa maior e tecnicamente correta, meu maior objetivo é produzir tomate, que é um produto bastante delicado”, conta.
Em outras propriedades da região, a rede já implantou galinheiro, estufa de mudas, caixa de abelhas, entre outros equipamentos que melhoram a produção agrícola e agrega valor aos alimentos produzidos. “Existe uma grande demanda por produtos orgânicos na capital, e temos uma boa produção bem aqui. O projeto veio para melhorar a profissionalização do pós-colheita, englobando logística, agregação de valor, e encurtar o caminho para que o produto chegue ao consumidor”, afirma Vinícius Ramos.
O objetivo vem sendo alcançado, na avaliação de Bianca Naime, da Ade Sampa, agência de desenvolvimento vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de São Paulo. “Essa rede ampliou o potencial da cadeia produtiva, para que mais consumidores sejam atendidos e o produtor possa vender mais e melhor”, diz. “Trabalhamos com três etapas: produção, beneficiamento e comercialização. Em todas, os objetivos foram atingidos com sucesso”, conclui.